quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Róseas Flores d'alvorada: uma breve reflexão sobre as modinhas imperiais.

"Róseas flores d'alvorada, teus perfumes causam dor! Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor!"

        Assim anotou Mário de Andrade em seu livro "Modinhas Imperiais" de 1930, resultado da sua pesquisa desse gênero musical muito presente no Brasil e em Portugal da segunda metade do século XVIII até o inicio do Brasil República.
      A modinha, desconhecida por muitos músicos, é ainda um gênero estudado pelos cantores por sua importância histórica no canto erudito brasileiro e a técnica entre saltos melódicos e letra muito sentimental.
      Nascida aqui no Brasil no século XVII, ganhou destaque em 1770 quando Domingos Caldas Barbosa (1740­1800) que era poeta, compositor, cantor e violeiro e a apresentou na Corte de Lisboa que com o acréscimo de características da ópera italiana voltou ao Brasil de forma requintada, já como canção camerística.
     Com esse "jeitinho" tão suave, sentimental, chorosa e romântica caminhou a modinha. Suas letras falam de amor, da pureza de amar, dos sentimentos contidos no coração que pulsa por um grande amor, dos suspíros e das juras dos amantes da época, sendo uma grande expressão poético­musical brasileira. Geralmente possui duas partes, onde prevalece o modo menor bem como o uso de compassos binários e quaternários.
     Temos o compositor Joaquim Manoel (da Câmara) que é considerado o primeiro a se dedicar a arte das modinhas, com até mesmo Sigismund Neukomm como harmozinador de 20 de suas modinhas. Joaquim Manoel deixou várias peças de qualidade como Se Me Desses Um Suspiro, Desde o Dia em Que Nasci e A Melancolia, tendo esta servido de tema para a fantasia L'Amoreux, de Neukomm. Mas o grande modinheiro da época foi Cândido Inácio da Silva, aluno do Padre José Maurício, com peças como Cruel Saudade, A Hora Que Não Te Vejo, Um Só Tormento de Amor e as famosas Busco a Campina Serena e Quando as Glórias Eu Gozei.
     Com o passar dos anos, a modinha ganhou fórmula ternária e foi para os pequenos grupos que cantavam a luz do luar, nas calçadas em baixo das janelas: Sim, as serenatas! E sempre a cantar o amor e os amantes, a modinha influenciou também a música do rádio e apartir de então, tudo se misturou.

"Róseas Flores d'alvorada" é um grande exemplo da sensibilidade poética contida nesse gênero, vejamos a letra:
"Róseas flores d'alvorada teus perfumes causam dor. Róseas flores d'alvorada teus perfumes causam dor.
Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor
Ai quem respira os teus odores: Fenece triste, morre de amores!
Não pode gozar venturas que de amor sofre aflição. Não pode afeito aos gemidos ter prazer me coração.
Sem os sonhos de ventura murchou­se a flor do desejo, Que m'importam outras flores si a minha bela eu não vejo.

Deixai que eu viva de penas, de saudade e de lembrança, Já que siquer me não resta nem uma só esperança."

Hoje, dificilmente escutamos as modinhas imperiais. Porém sua grandeza poético­musical, sua importância na literatura brasileira e sua carga técnica a faz ganhar vida nos sarais eruditos, nas aulas de canto e no coração dos poetas e amantes.
Partitura:

http://www.musicabrasilis.org.br/pt­br/partituras/anonimo­obras­compiladas­por­mario­de­andrad e­roseas­flores­da­alvorada


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