"Róseas flores d'alvorada, teus perfumes causam dor!
Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor!"
Assim anotou Mário de Andrade em seu livro "Modinhas Imperiais" de 1930, resultado da
sua pesquisa desse gênero musical muito presente no Brasil e em Portugal da segunda metade
do século XVIII até o inicio do Brasil República.
A modinha, desconhecida por muitos músicos, é ainda um gênero estudado pelos
cantores por sua importância histórica no canto erudito brasileiro e a técnica entre saltos
melódicos e letra muito sentimental.
Nascida aqui no Brasil no século XVII, ganhou destaque em 1770 quando Domingos
Caldas Barbosa (17401800) que era poeta, compositor, cantor e violeiro e a apresentou na
Corte de Lisboa que com o acréscimo de características da ópera italiana voltou ao Brasil de
forma requintada, já como canção camerística.
Com esse "jeitinho" tão suave, sentimental, chorosa e romântica caminhou a modinha.
Suas letras falam de amor, da pureza de amar, dos sentimentos contidos no coração que pulsa
por um grande amor, dos suspíros e das juras dos amantes da época, sendo uma grande
expressão poéticomusical brasileira. Geralmente possui duas partes, onde prevalece o modo
menor bem como o uso de compassos binários e quaternários.
Temos o compositor Joaquim Manoel (da Câmara) que é considerado o primeiro a se
dedicar a arte das modinhas, com até mesmo Sigismund Neukomm como harmozinador de 20
de suas modinhas. Joaquim Manoel deixou várias peças de qualidade como Se Me Desses Um
Suspiro, Desde o Dia em Que Nasci e A Melancolia, tendo esta servido de tema para a fantasia
L'Amoreux, de Neukomm. Mas o grande modinheiro da época foi Cândido Inácio da Silva, aluno
do Padre José Maurício, com peças como Cruel Saudade, A Hora Que Não Te Vejo, Um Só
Tormento de Amor e as famosas Busco a Campina Serena e Quando as Glórias Eu Gozei.
Com o passar dos anos, a modinha ganhou fórmula ternária e foi para os pequenos
grupos que cantavam a luz do luar, nas calçadas em baixo das janelas: Sim, as serenatas! E
sempre a cantar o amor e os amantes, a modinha influenciou também a música do rádio e
apartir de então, tudo se misturou.
"Róseas Flores d'alvorada" é um grande exemplo da sensibilidade poética contida nesse
gênero, vejamos a letra:
"Róseas flores d'alvorada teus perfumes causam dor.
Róseas flores d'alvorada teus perfumes causam dor.
Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor
Essa imagem que recordas é meu puro e santo amor
Ai quem respira os teus odores:
Fenece triste, morre de amores!
Não pode gozar venturas que de amor sofre aflição.
Não pode afeito aos gemidos ter prazer me coração.
Sem os sonhos de ventura murchouse a flor do desejo,
Que m'importam outras flores si a minha bela eu não vejo.
Deixai que eu viva de penas, de saudade e de lembrança,
Já que siquer me não resta nem uma só esperança."
Hoje, dificilmente escutamos as modinhas imperiais. Porém sua grandeza
poéticomusical, sua importância na literatura brasileira e sua carga técnica a faz ganhar vida
nos sarais eruditos, nas aulas de canto e no coração dos poetas e amantes.
Partitura:
http://www.musicabrasilis.org.br/ptbr/partituras/anonimoobrascompiladaspormariodeandrad
eroseasfloresdaalvorada
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